Adultos e cerca de 50 crianças, que voltavam de um acampamento, ficaram com fome e sede dentro da aeronave. O avião saiu de Congonhas para Confins, mas por causa de temporal, voltou para pousar em Guarulhos. Sem local para encostar, ficou na área de manobra até abastecer e decolar novamente
Passageiros do voo JJ3264 da TAM, que saiu do Aeroporto de Congonhas com destino a Confins, passaram quase seis horas no avião em situação de desconforto e desespero na segunda-feira. A aeronave decolou em São Paulo, não pôde pousar no terminal na Grande BH, por causa do temporal de ontem, e seguiu para o Aeroporto Internacional em Guarulhos, onde ficou por horas na área de manobra. Adultos e cerca de 50 crianças ficaram com fome e sede dentro da aeronave, conforme relatou uma passageira.
A psicóloga Vânia Camanzi contou que saiu de Porto Alegre com destino a Belo Horizonte por volta de 14h. Ela deveria ter voado às 11h50, mas houve contratempos no terminal e ela acabou deslocada pela companhia aérea para o horário da tarde. Até então, Vânia entendeu como um imprevisto a situação de troca de voo, mas nem imaginava o que ainda passaria para chegar à capital mineira.
De Porto Alegre, o avião foi para Congonhas, onde ocorreu a troca de aeronave para seguir até Confins. O voo saiu por volta de 17h40 e quando chegou na Grande BH não havia condição de pouso por causa da chuva. De acordo com Camanzi, o comandante informou que não poderia sobrevoar o terminal até o fim do temporal, pois o combustível era insuficiente, assim decidiu seguir para Guarulhos, onde havia autorização para pouso.
“Foi uma situação de emergência, mas não havia portão disponível para o avião, que ficou ligado no meio da pista”, relata a psicóloga. A aeronave da TAM ficou na área de manobra em Guarulhos portanto, passageiros não poderiam desatar cintos, ligar telefone e, muito menos, descer.
Cerca de 50 crianças, com faixa etária próxima de 10 anos, estavam no avião acompanhados de três monitores. Eles voltaram de um acampamento em São Paulo. A demora na área de taxiamento criou uma situação de desespero dentro da aeronave, com a agitação das crianças e dos outros passageiros, pois o voo estava cheio. As regras passaram a não valer, porque as pessoas precisaram ligar para os parentes e usar o banheiro.
Fome e sede
“Ficamos com fome e sede. Eu que estava em conexão de Porto Alegre, fiquei sem almoço. As pessoas começaram a levantar e as comissárias mandavam sentar. Os meninos faziam barulho e batiam nas laterais”, relata a psicologa.
Os passageiros cobraram informações dos comissários, mas as explicações desencontradas não solucionavam o problema. O avião entrou em uma fila para abastecer, o que provocou mais demora. Enquanto isso, os clientes pediram que fosse servido lanche, mas a companhia não atendeu a demanda. Conforme a passageira, a água era servida de forma escassa para pessoas que precisavam tomar remédios. Um menino chegou a questionar o motivo pelo qual foi dada água para uma passageira e negada a ele.
Segundo Camanzi, a informação repassada era que aguardariam a chegada de outra tripulação para seguir a Confins, por uma questão de horário de trabalho. “Todos estavam nervosos e uma comissária ameaçou chamar um policial federal para um passageiro”, conta. Os clientes até queriam a presença da PF, porque pretendiam registrar uma ocorrência sobre os problemas, no entanto não houve presença da polícia.
“Os meninos gritaram dentro do avião: 'fomos sequestrados'. Foi terrível, super tenso”, relata a psicóloga, que considerou os comissários da TAM despreparados. Depois de tanta confusão, a aeronave, já abastecida, levantou voo em direção a Confins. Somente durante o voo foi servido um lanche. Quando receberam o pacote de biscoito, as crianças cantaram “obrigada, senhor, pela comida que não recebemos”, uma situação que resume o constrangimento passado no avião, segundo a passageira.
Pais das crianças e familiares de outros passageiros estavam aguardando no terminal em Minas desde 18h. O voo pousou por volta de 23h30 em Confins. Camanzi acredita que a companhia aérea os manteve no avião em Guarulhos para evitar de transportar tantas crianças para um hotel, solução que poderia ter sido aplicada no caso.